2.11.15

Ser mulher

Ser mulher, minhas queridas, é para as fortes. Não é qualquer ser dito "sexo forte" que resiste ao cotidiano, à trajetória de vida de uma mulher. Há que ser resiliente para suportar tanta estupidez e misoginia.

Depois da linda e corajosa iniciativa do Think Olga, é preciso não deixar que o assunto caia no esquecimento outra vez, é preciso falar, gritar, se fazer ouvir.
Quem de nós já não passou por situações violentas ou constrangedoras pelo simples fato de ser mulher?

Quem, ao caminhar tranquilamente nas vias públicas, não foi surpreendida com um comentário grosseiro, violento, tosco? E ao reclamar, não foi mais violentamente atacada com mais insultos e, no arremate das grosserias, não ouviu um homem machucadinho, ofendidinho dizer: "era só um elogio" ou "se bate, reclama; se elogia, reclama".

Quem nunca foi abusada dentro de um transporte coletivo?

Essas pessoas têm um sério problema. Elas, de fato, acham que foram galantes, elogiosas, bacanas.

Deixa a titia Valentina explicar uma coisinha para os camaradas xy: não tem nada de bacana, elogioso ou galante no fato de dizer ao berros (ou sussurrando) nas ruas da cidade: "gostosa", "vou te comer". Também não é legal tocar em qualquer parte do corpo de uma mulher sem sua concessão. 

Vou explicar melhor essa parte da concessão: se ela não pedir, com todas as letras e sílabas, não infira, depreenda, entenda, pense, imagine que (por estar num bar, numa boate, caminhando num parque, praia, sentada num banco, em companhia das amigas, ou qualquer outra situação) ela está te autorizando a violar seu espaço por meio de toques agressivos. lascivos, sexualizados, objetificantes.

Entendeu ou preciso desenhar?

O mais chato é quando pessoas do nosso convívio rompem os limites do respeito.

Até uma pessoa evoluída, como a titia Valentina aqui, coleciona lembranças tristes e violentas. Brincadeiras à parte, o que estou querendo dizer é que passar por situações vexatórias, violentas, aberrantes não é um problema seu. Não se trata de ser uma alma involuída ou uma garota má, o problema REALMENTE NÃO É SEU!

Tive dois namorados que, em certa altura do relacionamento, cismaram que tinham me comprado num mercado de pulgas ou pago um dote milionário a minha família ou sonharam que minha pessoa era propriedade privada deles ou me confundiram com a Barbie (complete com alguma frase esdrúxula). 

O namorado A comprou uma redoma e quis me fechar do e para o mundo. Como essas pessoas possuem um sentimento de distorção da realidade, A esqueceu que eu não caibo em nenhuma redoma. Tadinho! 

B, após se "certificar" que era amado, passou a ter surtos. Pensou que, uma vez que tinha recebido o certificado de garantia do amor que nos aproximou, podia xingar, falar absurdos, ser violento. Na sua cabecinha doida, esqueceu de levar em conta a maior das lições: só ama quem se ama. Eu me amo mais do que qualquer coisa ou pessoa.

Queridas, não se constranjam em arrumar as malas (suas ou dele) e comprar um bilhete só de ida. Pra onde? Qualquer lugar longe da violência e do desrespeito.

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